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Mídia européia destaca nova cisão da Alemanha reunificada

(sm)1 de outubro de 2005

Quinze anos após a reunificação das duas Alemanhas, o assunto mais propagado é tudo aquilo que divide o país. Na ótica da imprensa européia, Alemanha ainda é um país dilacerado – não apenas entre Leste e Oeste.

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Rastros do Muro de Berlim, que cedeu espaço a outras divisõesFoto: DW

"É uma questão de sinceridade dizer para as pessoas que não é possível criar as mesmas condições de vida em toda a Alemanha", declarou o presidente alemão, Horst Köhler, com uma resignação surpreendente, a dois dias das comemorações dos quinze anos da Alemanha reunificada. Com esta declaração, o chefe de Estado reagiu à constatação quase unânime da opinião pública: uma década e meia após a reunificação, a Alemanha é um país dividido. Será que se esperava demais da reintegração do país?

Antes só a metade reclamava, agora são todos

A taxa de desemprego no Leste é o dobro da registrada no Oeste do país, os alemães do Leste estão sub-representados nos cargos públicos e ainda são alvo do preconceito por parte do Oeste, que ditou as regras da reunificação. A desigualdade é patente. Novas publicações sobre o atual estado da Alemanha descrevem um cenário desolador dos chamados "novos Estados", correspondentes ao território da antiga Alemanha Oriental.

A imprensa alemã ressalta, sobretudo, o fracasso do processo de integração entre as duas partes do país. "Na época [da reunificação], disseram que ia durar uma geração até se atingir uma unidade interna. Agora, passado o primeiro tempo, a unificação alemã fez avanços: há dez anos, era principalmente no Leste que se reclamava e lamentava. Agora é o país inteiro que lamenta", destacou com ironia o jornal Sueddeutsche Zeitung.

Muita euforia para nada

A mídia européia, por sua vez, descreve o quadro com maior distanciamento, mas também se admira de a Alemanha ainda ser um país dilacerado. A falta de unidade não se mostra apenas na desigualdade entre Leste e Oeste. A cisão política revelada pelo empate eleitoral do pleito de setembro é vista como indício de um país paralisado pelas próprias contradições.

"Todos esperavam poder constatar um clima mais positivo na Alemanha, quinze anos após a euforia da reunificação", destacou o diário suíço Neue Zürcher Zeitung. "Esta esperança não se cumpriu. O país terá que avançar por um bom tempo, até poder eliminar as conseqüências do fracasso de 18 de setembro [data das eleições alemãs]. Isso vai ficar, independentemente de quem se disponha a assumir a responsabilidade", acrescentou o jornal, comentando o resultado das eleições.

Leste indigesto

O diário espanhol El País, por sua vez, comenta que "os partidos políticos apenas fazem menção à brecha econômica e social das duas Alemanhas, apesar de um a cada cinco alemães desejar um novo Muro entre o Leste e o Oeste". Abordada do ponto de vista econômico, a reunificação alemã é descrita pelo El País como um passo maior do que as pernas.

"Ao se aproximar o 16º aniversário da queda do Muro de Berlim e o 15º do desaparecimento da República Democrática da Alemanha comunista, deglutida pela Alemanha Ocidental, triunfante na competição dos dois sistemas conflitantes durante a Guerra Fria, a digestão foi mais difícil do que se pensava".

Germes de uma redivisão

O diário francês Le Monde, por sua vez, enfoca outros cortes da Alemanha: "O que se observa é uma Alemanha com dois rostos. De um lado, o país está fragilizado pelo questionamento doloroso de seu modelo econômico e social e pela persistência da divisão econômica entre Oeste e Leste, que impede o surgimento de uma verdadeira identidade comum".

"Por outro lado, a Alemanha se afirmou no cenário internacional, sobretudo após sua oposição à guerra do Iraque, e desenvolveu um grande dinamismo na criação cinematográfica, literária e no cenário intelectual. Opondo-se ao dinamismo cultural e diplomático, notam-se uma estagnação econômica e o questionamento da pertinência de seu modelo social. Em suma, a Alemanha atual dá impressão de brilhar onde ninguém previa e de estagnar onde se esperava um impulso."